quarta-feira, 10 de julho de 2019

BOLSONARO E A REELEIÇÃO

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O governo Bolsonaro acaba de completar seis meses, neste último domingo de junho. Mas o presidente já é candidatíssimo à reeleição. 
Ele mesmo deixou escapar esse desejo, quando participou da "Marcha para Jesus" em São Paulo, há poucos dias atrás. 
Ontem também, dia 06 /07, em evento no Clube Naval, afirmou que entregará um país muito melhor para quem o suceder em 2026.  
Não só é candidato.  Mas já se acha reeleito.

Não seria cedo demais para se lançar candidato à reeleição?  Vamos analisar.
Ao assumir agora essa candidatura, acredito que Bolsonaro pretende, em primeiro lugar,  evitar que outras possíveis candidaturas, dentro do mesmo campo politico ideológico, de direita e centro-direita, como João Dória, Wilson Witzel e até mesmo Rodrigo Maia, estimulados  pelas dificuldades iniciais de seu governo, ocupem espaço e tomem formas mais definidas. 
Ele sai na frente deles portanto. E lhes deixa como alternativa, a cada um deles, o espaço da reeleição, seja aos governos estaduais, seja à presidência da Câmara.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro se aproveita do fato de que a oposição ainda não existe concretamente. Não tem estrutura, não tem unidade e também, ainda não tem objetivos definidos. 
Na Reforma da Previdência, a oposição caminha à margem do processo. Os seus governadores precisam dela, mas os partidos articulam contra. 
Nenhum dos partidos de oposição tem atitude coerente, com propostas claras, ou aponta caminhos alternativos que sejam viáveis.
O maior deles, o PT, como não tem bandeiras, se alimenta de Lula preso, para ter a bandeira do "Lula-livre". Não aponta saídas, por que já foi governo e não realizou nada do que critica em Bolsonaro.
Da mesma forma, o "Lula-livre não mobiliza os outros segmentos de oposição, por que muitos deles querem mesmo Lula preso.
Excetuando o Nordeste, as esquerdas estão fragilizadas em termos de presença institucional. E o Nordeste como um todo, é muito pouco para estruturar uma oposição consistente ao nível de Brasil. 
Então, as forças de oposição se alimentam de expectativas geradas por acontecimentos que lhes são externos, que elas não produzem e nem controlam. 
A greve geral fracassou, mostrando que sua capacidade de influencia e mobilização, ainda é insuficiente para enfrentar o governo. Sua atuação mais importante se circunscreve a escaramuças no Congresso e na aliança com um Centrão, cuja Agenda não destoa da Agenda do governo. Os atritos entre governo e Centrão não são produto de uma diferença ideológica. São apenas disputa por espaço de poder. A aliança das oposições  com o Centrão então, se estrutura por coisas pontuais, transitórias e, não é confiável para construir uma oposição consistente.
 
Percebendo todos esses problemas é que Bolsonaro se lança desde agora à reeleição.
 
Enganam-se aqueles que imaginam que o governo Bolsonaro é confuso e não tem estratégia. Dificilmente um governo com tantos oficiais generais em seu interior, seria um governo sem estratégia. A essência dos militares, principalmente dos oficiais generais, é justamente a estratégia.
O governo pode estar equivocado em seu caminho, mas segue uma estratégia.

Acho equivocado por exemplo, ele não ter uma agenda para a retomada da economia. O que fazer com o desemprego,  que  atualmente alcança 13 milhões de pessoas no pais? Como elevar o nível de vida da população, devolvendo sua capacidade de compra? Como superar os índices alarmantes de pobreza absoluta no país? Como fazer para que o empresariado  retome a confiança e volte a investir?
São problemas que Bolsonaro  herdou dos outros governos, mas que agora são dele.
Focar apenas na Reforma da Previdência, Reforma Tributária e Pacto Federativo, é muito pouco, como Agenda  econômica.
Acho também que é equivocado atacar políticas públicas já consolidadas nas áreas sociais e ambientais, destoando assim, da maioria da opinião pública. 
É o caso do Decreto das  Armas, rejeitado pela maioria da população. Só  em São Paulo, estado mais importante da federação, em cada 10 paulistanos, 7 deles, são contra o Decreto. É o caso também de sua política ambiental, principalmente em relação ao desmatamento da Amazônia.
Da mesma forma, acho equivocado hostilizar parlamentares ou estimular e/ou fazer vista grossa, aos ataques feitos por seus correligionários nas redes sociais ao Congresso e ao STF.
Muitas vezes o seu silêncio sobre esses problemas, é mais estrondoso e repercute mais, que o barulho feito por seus seguidores, dando margem a uma interpretação dúbia sobre o que ele realmente pensa e o que ele quer.
Tal comportamento cria problemas ao governo. E a contra-face disto tudo é uma queda na sua aprovação que vem se acentuando desde janeiro, assim como tem crescido os seus índices de reprovação, como tem registrado as pesquisas. 
Mesmo as manifestações de rua, deste último domingo 30 de junho, em seu apoio, se bem que importantes, foram menores que as anteriores. Se concentraram principalmente no Sudeste, sobretudo Rio e São Paulo. Foram menores no Sul  e quase não existiram no Nordeste, com cujos governadores o governo tem muita dificuldade de relacionamento.

Mas engana-se quem pensar que Bolsonaro vai cair agora, ou amanhã, como produto dos problemas criados pelo seu próprio governo.
Esta é uma ilusão do PT e da esquerda. E no imaginário politico, a ilusão cria atalhos e soluções fáceis. Só que elas nunca se concretizam.

Mesmo se movimentando de forma aparentemente caótica e confusa, o governo Bolsonaro tem uma estratégia que, mesmo podendo ser equivocada, é coerente.
Onde está essa coerência? 
Acredito que o centro de sua estratégia e de sua coerência, está na alimentação e manutenção do núcleo duro de sua base eleitoral, cujo apoio, é o suporte para ele poder atravessar esse inicio dificil de governo, sem perder o rumo do processo e, antes que as oposições se organizem como força  real de contestação. 
É a esse núcleo que ele se dirige prioritariamente e com o qual dialoga nas redes sociais. Por isso é tão importante para ele, o cumprimento das promessas de campanha.

Qual o tamanho desse núcleo duro do governo, que lhe dá a base de sustentação politica e ideológica nos momentos mais dificeis? 
Não é fácil  responder a essa pergunta. Mas a maioria dos analistas politicos acredita que essa base  ideológica da direita  bolsonarista, corresponde a mais ou menos 25% do seu público eleitoral, ou seja, 25% daquele público que o elegeu presidente.
É esse segmento de 25% do seu público eleitoral, que é importante para ele, por que é o que lhe dá sustentação. 
Se este raciocínio estiver correto, esse seria também, em seus cálculos, o percentual minimo de popularidade, para manter Bolsonaro com fôlego e capacidade para atravessar as dificuldades atuais e conseguir avançar. 
Então, 25% de popularidade seria a linha  de sustentação, se fosse uma imagem gráfica, que não poderia ser ultrapassada para baixo e que o governo colocaria como  meta, para se manter vivo. Cair abaixo desta linha, ou deste piso, significaria que ele estaria perdendo apoio dentro de seu núcleo duro, de seus próprios apoiadores e mantenedores ideológicos. Teria então, que buscar como alternativa, uma linha de sustentação mais abaixo, com outras alianças, para não despencar em popularidade, tornando sua reeleição inviável.
Sua estratégia portanto seria, manter sua base ideológica mobilizada para atravessar esse  inicio complicado, apostando, em um segundo momento, na retomada da economia.
Enquanto essa retomada não chega, o governo precisa se manter vivo, fazendo a transição entre os problemas herdados dos governos anteriores e as suas próprias soluções, evitando o crescimento de uma crise politica e social, pois com ela, as tensões sociais e os conflitos com o Congresso poderiam tomar formas mais agudas. 

O ponto de partida para a retomada da economia e para sair dessa situação seria a Reforma da Previdência, seguida da Reforma Tributária e, mais à frente, pelo Pacto Federativo, que reestruturaria os recursos públicos entre a federação, os estados e os municípios.
Se a Reforma da Previdência suscitar um crescimento econômico em torno de 2% a 2,5% em 2020, então o governo teria condições de se estruturar melhor, manter o controle da vida econômica e social e, avançar em apoio popular-eleitoral, tanto no Congresso como na opinião pública. O empresariado voltaria a investir, o desemprego começaria a ceder, o nível de vida da população retomaria um curso mais positivo e o governo teria então, colocado a economia em crescimento sem precisar fazer concessões fisiológicas ao Congresso. 
Seria um êxito considerável que se faria sentir  nas próximas eleições municipais  de 2020, elegendo um grande número de  prefeitos e vereadores do mesmo espectro politico ideológico, que seriam a base de sustentação e alavancadora depois, para sua campanha pela reeleição.

Seria isto possível ? Talvez sim, se tudo der certo. 
Mas também, talvez não, se der errado.
Isto por que, se as reformas não se concretizarem  da forma como o governo espera e se a retomada da economia não for suficiente para diminuir o desemprego, elevar o nível de  vida da população, diminuindo as taxas de pobreza absoluta e se o empresariado não retomar a confiança, voltando a investir, então sua popularidade caminhará para baixo, atravessará em queda a linha de sustentação dos 25% e, desta forma, dificilmente o governo terá chance de uma candidatura á reeleição.

Estaria aberto então, o caminho para que outras candidaturas do mesmo espectro politico ideológico, como João Dória, Wilson Witzel e até mesmo Rodrigo Maia, ocupem espaço. 
Dependendo da evolução de cada um deles, em seus estados  e nacionalmente, da construção das alianças e das articulações, quem sobressair e conseguir se impor sobre os outros, deverá ser o candidato a presidente da república, nesta nova situação,  representando e defendendo a estrutura ideológica que se elegeu em 2018, contra as investidas da oposição.

Rio de Janeiro, 10/07/2019.

Carlos Montarroyos
21-9-8747-1899

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