Vai começar a campanha eleitoral. Por isso me apressei em concluir a análise
que havia começado a fazer sobre o processo político durante o impeachment da
presidente Dilma e que, por força do acúmulo de trabalho, tive que dividir em
três partes, depois de ficar durante algum tempo sem escrever. Por
isso o título "Voltando aos Textos”. Essa terceira e última parte
completam o meu raciocínio. E quando voltar a escrever já será sobre uma outra
situação política, pós-impeachment.
Terça-feira passada, dia 09-08-2016, a sessão de
votação do relatório da Comissão Especial do Impeachment, aceitou a denúncia
contra a presidente afastada Dilma Rousseff.
Em votação presidida pelo presidente do STF,
Ministro Ricardo Lewandowski, dos 81 senadores presentes, 59 votaram de acordo
com a acusação. Apenas 21 votaram, em defesa da presidente Dilma, perfazendo
80 votos, já que o senador Renan Calheiros, na
condição de presidente do Senado se absteve. Quando da votação do julgamento,
que se inicia dia 25 deste mês, não será muito diferente. Quem esperou até
agora para se definir já definiu-se. Não vai haver surpresas de última hora.
Essa votação do dia 09 passado muda o status político
e jurídico da presidente, pois ela, a partir desse resultado, deixa de
ser investigada para ser ré deste processo.
O presidente interino Michel Temer, uma vez
confirmado no cargo como deve acontecer com o impeachment da presidente
afastada Dilma Rousseff, terá em suas mãos a responsabilidade de recuperar o
país. Uma reedição, em outras condições, do que fez Itamar Franco quando do impeachment
de Fernando Collor. Ou seja, tentar um governo de união nacional, que apoiado
na recuperação econômica, avance na construção de um futuro político de acordo
com os anseios da população.
A mudança do quadro político, com a possível saída
de Dilma, mostra uma insipiente mudança da situação da economia, alterando o
quadro pessimista que imperava.
Os primeiros sinais de um inicio de recuperação já
começam a aparecer. Talvez mais cedo do que se esperava. Os números ainda misturam
um mandato e meio de Dilma Rousseff, com os dois primeiros meses de
Michel Temer. E é preciso então saber separar o que é Dilma e o que é Temer nesta
comparação.
A indústria, por exemplo, deve terminar o ano 6%
menor que em 2015, que já havia sido um ano muito ruim. Mas, ao mesmo tempo, os
três últimos meses foram de alta seguida da produção industrial. Também o
saldo comercial, visualizado nestes últimos meses é recorde, embora a corrente
de comércio, que soma importação e exportação seja bem menor, se comparada com
os anos anteriores.
Desde a saída da presidente Dilma em maio, houve
melhoras em diversos indicadores de confiança e até mesmo de atividade, embora
os números ainda sejam contraditórios.
O IBGE informou esta semana que a produção industrial
está 18% abaixo do pico que foi registrado em junho de 2013 e 9% abaixo do ano passado,
embora tenha crescido pelo quarto mês seguido.
A produção de bens de capital está em alta, embora
tivesse acumulado antes uma queda de 26%.
Segundo o economista Rafael Bacciotti da
"Tendências Consultoria", a indústria brasileira ainda vai precisar
de uns três ou quatro anos para voltar aos níveis anteriores, antes que o
governo Dilma a desarticulasse. Mesmo assim, embora todas as projeções indiquem
que 2016 fechará com uma retração de 6% na indústria, os sinais de recuperação
se farão mais claros já em 2017, com um crescimento de 2,8% na atividade industrial.
E o crescimento industrial vai certamente influenciar as outras atividades.
Toda essa volta da confiança empresarial se
expressa no crescimento da Bolsa de Valores, que mostra viés de alta na
economia.
Também o Fundo Monetário Internacional melhorou
pela primeira vez, suas projeções para o produto interno bruto (PIB) do país
este ano.
A expectativa do Fundo agora é que o Brasil encolha
3,3% em 2016, em vez de encolher 3,9%. que era a sua última previsão. E mais. O
FMI prevê que em 2017 o Brasil voltará a crescer, com um avanço do PIB entre
0,5% e 0,7%. É muito cedo para comemorar a volta do crescimento. Parte dessa
alta aconteceu pela substituição das importações, que se tornaram muito mais caras
com a desvalorização da moeda e a alta do dólar.
Com a mudança da situação, o Real valorizou-se e
houve recomposição dos estoques por causa da retração no comércio.
Por enquanto nada indica que o consumo
voltará com força, invertendo a tendência do mercado, sobretudo por causa do
desemprego que ainda é muito elevado e tira o poder de compra da população.
A perda de empregos formais, segundo dados do
CAGED, que é o Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados foi de 1,56 milhão
no ano passado, com o acréscimo de 535 mil nos primeiros meses deste ano
de 2016. E a recuperação desses empregos dificilmente ocorrerá a curto
prazo, mesmo com o crescimento da economia.
Sobretudo porque até 2020, segundo a empresa "GO Associados",
aproximadamente 8 milhões de jovens estarão entrando no mercado de
trabalho e competindo com a força de trabalho desempregada.
O ministro Henrique Meirelles afirmou faz pouco que
esta é a pior recessão que o Brasil já enfrentou, desde que o PIB começou a ser
calculado em 1901. Não se sai de uma situação como essa com facilidade.
E essa saída não é apenas econômica. É,
sobretudo política também.
Se Michel Temer for capaz de contornar, ordenar e
superar os problemas políticos que certamente terá que enfrentar logo após
ser confirmado como presidente efetivo; tendo que atuar sobre a
situação política nova que se configurar após as eleições municipais; e se,
aproveitando os possíveis avanços da economia, ele for capaz de aplicar os
remédios amargos que terá que usar inevitavelmente, sem perder o controle do Congresso
e ainda assim manter uma popularidade no mínimo razoável vai com certeza passar
à história como o presidente que, saindo da coadjuvância de vice, assumiu o
papel principal e recolocou o pais nos trilhos.
Um grande abraço e um bom dia dos pais, no convívio
de sua família.
Carlos Montarroyos

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