quinta-feira, 2 de maio de 2019

Na Política seremos: "SISTOLE OU DIÁSTOLE" ?

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O termo "Sístole ou Diástole" foi criado pelo General Golbery do Couto e Silva, um dos oficiais generais mais cultos do exercito brasileiro. Rivalizava com o também General Nelson Werneck Sodré, autor de tantas obras importantes sobre o Brasil. Werneck Sodré  à esquerda e Golbery á direita.
Golbery foi um dos articuladores do movimento militar de 1964 e foi o criador do Serviço  Nacional de Informações-SNI- o qual chefiou por muitos anos, até quase sua morte. Era um apaixonado pelo setor de "informações" e costumava ensinar que "em informações, as fichas não se apagam, mas elas se superpõem como camadas geológicas".
Golbery era um estudioso e cunhou esse termo "Sístole ou Diástole", para caracterizar as diversas  alternâncias de poder, que ele via como inevitáveis, sempre que as circunstâncias históricas as faziam eclodir de maneira favorável. 
"Sístole" era a estrutura política estabelecida, que pelas circunstâncias, para manter-se, precisava  ser mais fechada. "Diástole" era a oposição, mais aberta e liberal enquanto oposição, até se alternar no poder.

É apoiado nessa criação  do General Golbery, de "Sístole ou Diástole", que eu  vou tentar enfocar aqui, alguns acontecimentos recentes.

1 - Penso que a vitória dos socialistas na eleição espanhola não deve ser encarada apenas como uma vitória da esquerda na Espanha. Acho que ela pode estar assinalando o começo de uma  inversão de tendencia na politica global. E essa possibilidade de inversão, dependendo de sua  força politica e popular,  vai inevitavelmente influenciar em outras possíveis inversões. Assim como pode  provocar também, um efeito contrário, se estabilizar,  ou até retroceder, se não tiver força para avançar.
Neste caso específico, a vitória dos socialistas espanhóis corresponderia à diástole. 

Embora a extrema direita, com o Vox, tenha surpreendido, chegando ao parlamento pela primeira vez desde Francisco Franco e alcançando 24 cadeiras de um total de 350, a direita e a centro direita, com o PP e o Cidadãos, que governavam até agora a Espanha, perderam quase  um terço de suas cadeiras, retrocedendo muito a sua força politica.
No cômputo geral, a esquerda, com o Podemos, também perdeu força, mas isso foi compensado pelo enorme crescimento dos socialistas do PSOE que alcançaram 123 cadeiras.
A vitória pura e simples no entanto, é apenas um indicador. O PSOE não conseguiu maioria e terá que se compor para formar o governo. Se tiver êxito e montar o gabinete, dará um passo importante para a inversão de tendencia na Espanha.

2 - Essa  não é uma tendencia apenas da Espanha. Em diversos outros países europeus, onde os conservadores, ou a direita pura e simples  estavam avançando, esse avanço se conteve e a relação de forças pode se inclinar para o outro  lado.
Na França, por exemplo, Marine le Pen, que havia crescido em cima do problema dos  imigrantes, começa a perder força depois de diversas derrotas eleitorais, na capital e no interior do país.
E Macron, que chegou ao governo francês com um programa de centro direita, tem agora um enorme desgaste e, para se manter, começou uma aliança com os socialistas, na tentativa de estabilizar seu governo.
Na Itália o conservador Giuseppe Conte ao não conseguir avançar seu programa econômico conservador, perdeu força social, perdeu também força politica  e como reflexo,  pode perder a maioria no Parlamento.
Na Inglaterra, a população demonstrou por  duas vezes que não quer o Brexit, que tiraria a Inglaterra  da União Europeia, deixando-a dependente  da aliança com os Estados Unidos. A derrota do Brexit pode alijar a Primeira Ministra Thereza May do governo e trazer de volta os trabalhistas ao poder.
Certamente  que isto não é uma equação resolvida. Mas é possível que, nas próximas eleições, o quadro politico desses países possa refletir a alternância desse processo. Principalmente por que, cada mudança em um determinado país, dependendo de sua força,  reflete e influencia sobre os outros.

3 - Aqui na América Latina, os governos  que  se elegeram faz pouco, com propostas conservadoras, logo depois de Macri na Argentina, não conseguiram avançar com suas propostas. Nem Piñera no Chile e nem Duque Marques na Colômbia. Enfrentam forte oposição politica e desgaste popular acentuado, mesmo  com pouco tempo de governo.
E na Argentina, Macri está alcançando  picos de impopularidade, enquanto Cristina Kirchner, apesar de todas as acusações contra ela, lidera  com folga as pesquisas para as próximas eleições.

4 - No Brasil, me chama a atenção o fato de que Lula começou a ocupar espaço na mídia. E esta ocupação de espaço não se faz em cima de acusações contra ele, ou  elementos que lhe causem desgaste. Ao contrário. Ele está ocupando espaço,  com elementos  que o favorecem, como a liberação de  entrevistas e a possibilidade de que  consiga  prisão domiciliar ou regime semi-aberto.
Neste momento, a oposição  contra o governo Bolsonaro ainda é muito limitada. Se circunscreve ao Congresso ou a  pequenos atos sem muita repercussão. Nem  Ciro, nem Boulos, nem Hadad ou Marina, conseguem liderar a oposição e se projetar no cenário politico com apoio popular. 
E a construção de uma outra direção de oposição, que se sobreponha às outras e que ganhe autoridade e a confiança da população, não se faz  de uma hora para outra. É um processo. E demanda tempo.
Por isso, os setores mais lúcidos da oposição, que alcançam várias instâncias  da República, se esforçam para colocar Lula em liberdade rapidamente, para que ele possa ocupar esse espaço vazio de uma liderança de oposição com apoio popular, antes que o governo se consolide.

5 - Por outro lado, o governo do presidente Bolsonaro, depois de 4 meses de empossado, ainda não conseguiu avançar com suas propostas. Não há qualquer movimento para fazer face ao desemprego, que aumentou muito neste inicio de ano, alcançando quase 14 milhões de desempregados. Também não há  nenhuma medida para  conter e inverter a situação de extrema pobreza de parte da população, a não ser o décimo terceiro do Bolsa Família, que foi muito importante, mas  não é suficiente.
O governo Bolsonaro precisa avançar na construção de uma base sólida e confiável no Congresso e precisa parar a briga interna das  diversas tendencias, que em nada lhe acrescenta. 
Precisa aprovar a reforma da Previdência, seu principal  Projeto. Mas para isto tem que melhorar muito sua articulação politica que é feita  atualmente por amadores, parlamentares  de primeiro mandato, bem intencionados, mas sem experiencia para jogar o  jogo politico do Congresso. 
Se o governo limitar sua atuação politica às articulações e às discussões no interior do Congresso, vai ser engolido pela oposição. Vai levar "bola nas costas" e vai ter que ceder cada vez mais, para avançar pouco.   
Para mudar esse quadro, o presidente precisa voltar às ruas, onde ele é forte. Voltar ás ruas como se estivesse ainda em campanha e retomar o apoio popular, evitando que a oposição cresça nas ruas e ocupe esse espaço. Na situação atual, a oposição, mesmo minoritária, demonstra  força no Congresso, quando se alia ao Centrão e tem conseguido atrapalhar muito o andamento das propostas do governo.
Mas nas ruas  a oposição ainda é minoritária, está dividida e não tem uma liderança com apoio de massas. A não ser Lula, que está preso. 
Então é preciso aproveitar esse espaço vazio e saber como ocupá-lo.

Carlos Montarroyos
21-9-8747-1899


















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