ALGUMAS IDEIAS SOBRE AS PRÓXIMAS ELEIÇÕESEsclarecimentoEsse texto foi produzido com a parceria de minha amiga Catarina Souto, advogada e especialista em marketing eleitoral.A eleição de 2018 foi muito diferente de todas as outras eleições. Jair Bolsonaro elegeu-se presidente da república por um partido pequeno, sem estrutura, sem dinheiro, e sem tempo de televisão. Em muitos estados, alguns candidatos nos quais quase ninguém apostava, também de partidos pequenos, sem recursos nem estrutura, elegeram-se governadores. Muitos deles, saindo das ultimas colocações nas pesquisas, para vencer a eleição. Da mesma forma, um grande numero de candidatos novatos conseguiu se eleger a cargos proporcionais. A maior parte deles, com pouca estrutura e quase sem recursos. As casas legislativas e o Congresso tiveram então, uma grande renovação. Foi uma eleição "sui gêneris" e esta experiencia merece por isso mesmo ser estudada para se entender o que realmente aconteceu.Acho que a eleição de 2018, foi marcada por três elementos principais: a Lava-Jato. 2 - O ante-petismo. 3 - A comunicação pelas redes sociais.1 -A Operação Lava-Jato foi um marco nesta campanha. Poucos os políticos processados ou atingidos por ela conseguiram se reeleger. E aqueles que, mesmo atingidos por ela, conseguiram um outro mandato, o fizeram com extrema dificuldade e com campanhas muito dispendiosas.2 -Da mesma forma o ante-petismo. A ligação PT-corrupção permeou o processo eleitoral e os políticos petistas ou ligados ao PT, pagaram a conta. Na realidade, todos aqueles ligados ou considerados representantes da "velha politica", filiados principalmente ao PT, ao MDB ou ao PSDB, receberam o castigo de uma eleição que não perdoou a corrupção e cobrou eleitoralmente e com juros o que eles estavam devendo. Os efeitos da Lava-Jato e do ante-petismo determinaram à sua maneira o desenvolvimento e o desfecho do processo eleitoral de 2018. Será que esses dois elementos ainda podem influenciar a próxima eleição? Possivelmente sim. Só não sabemos com que peso e capacidade de influencia o farão.A Lava-jato recebeu um golpe do STF com a decisão por 6X5 de enviar para a Justiça Eleitoral os processos que envolvam caixa dois. No rastro dessa decisão, a Segunda Turma do STF enviou para a Justiça Eleitoral o processo em que o ex-Senador Lindenberg é acusado de Caixa-2, mostrando que muitos processos podem ser revistos e talvez até anulados. Outro golpe importante foi a decisão da Câmara, de tirar o COAF do Ministro Sergio Moro.Qual a força da Lava-Jato depois dessas decisões? Sua influencia na próxima eleição vai depender da evolução desse quadro e de sua força e impacto sobre a população.Da mesma forma, o ante-petismo vai depender muito do êxito maior ou menor do governo Bolsonaro. Se Bolsonaro até o inicio do processo eleitoral de 2020, conseguir acertar o seu governo, conter as lutas internas em sua equipe, melhorar a relação com o Congresso, melhorar o emprego, a segurança e conseguir encaminhar suas propostas, principalmente a reforma da Previdência, então sua capacidade de influencia na eleição vindoura será muito grande e o sentimento ante-petista vai se fazer presente novamente.Se, ao contrário, Bolsonaro tropeçar no caminho, perder o rumo e não conseguir minimamente cumprir suas promessas eleitorais, o ante-petismo vai diminuir, a esquerda pode voltar com força e soprar um vento a seu favor nas próximas eleições municipais e depois, nas outras..Independente destes dois elementos, a Lava-jato e o ante-petismo, acredito que o grande diferencial nesta eleição passada foi a comunicação com o eleitor através das redes sociais.Este não é um fenômeno novo. Barack Obama se elegeu priorizando as redes sociais em sua campanha. Donald Trump foi pelo mesmo caminho. Nem ele mesmo esperava que passaria das prévias. Centralizou sua campanha nas redes sociais e saiu das últimas colocações para ganhar a presidência dos Estados Unidos.No Brasil, contra todas as expectativas, Bolsonaro consolidou sua candidatura, através das redes sociais. Virou um fenômeno eleitoral e se elegeu presidente. Como consequência destas experiencias, na próxima eleição de 2020 e nas posteriores, as redes sociais e os seus instrumentos, Facebook ou Instagran, como forma de comunicação eleitoral com a população, vão ganhar muito mais espaço. E isto não se aplica somente aos majoritários. Aos proporcionais também.Muitos dos candidatos que fizeram campanha da forma tradicional, centralizando no contato direto com o eleitor, com eventos, reuniões, corpo-a-corpo, mesmo gastando muito mais recursos e fazendo uma campanha mais desgastante, tiveram menos votos do que esperavam, mais dificuldades para se eleger, ou não se elegeram.Essa eleição de 2018 mostrou que, os eventos, reuniões, o corpo-a-corpo, são interessantes, mas não se pode apostar tudo nesta forma de fazer campanha. É dispendiosa, e por ser geralmente muito breve e esporádico o contato direto com o candidato, não proporciona uma relação estável e segura. Além disso, são necessárias muitas reuniões ou eventos para que se atinja um público razoável.Ao contrário, aqueles que, mesmo não desprezando estas formas tradicionais de fazer campanha politica, as minimizaram e centralizaram suas campanhas nas redes sociais, fizeram campanhas muito mais baratas, mais efetivas e atingindo um número infinitamente superior de eleitores a cada movimento efetuado.A eleição de 2018 mostrou que o eleitor mudou muito. E essa mudança fez mudar também a relação eleitor-candidato. É certo que permanece existindo o que se poderia chamar de "eleitor lumpenizado", aquele que pressiona o candidato buscando vantagens imediatas, que vende seu apoio ou troca o voto por migalhas. Mas a maioria do eleitorado, aquele que predominou nesta última eleição, mostrou e vai mostrar cada vez mais no futuro, uma postura diferente. O eleitor agora quer saber mais do candidato. Quer interagir com ele. Vai atrás de respostas consistentes para seus problemas e, muito mais que na TV, nas reuniões ou nos panfletos, esse eleitor busca as redes sociais para se informar, dar opinião e trocar informações. O voto de repulsa aos envolvidos com a corrupção, assim como o ante-petismo, se alimentou nas redes sociais.Abre-se então um mundo novo para os políticos e para o seu entôrno eleitoral. Campanhas suntuosas, marqueteiros mágicos e as coligações partidárias, perderam relevância e vão perder muito mais, na próxima eleição e também nas outras. As regras, a maneira tradicional de fazer campanha, de procurar e capturar o eleitor, que davam certo antes, já não deram certo nesta eleição que passou e darão certo cada vez menos nas outras. A cabeça do eleitor mudou. A forma de se comunicar com ele também. E quem não reconhecer isto vai ficar pelo caminho.A televisão que sempre foi um elemento determinante na influencia sobre o eleitorado, perdeu espaço para as redes sociais. Desde algum tempo já, as manifestações populares tem sido convocadas com êxito por esse instrumento. A TV já perdeu a guerra da primeira tela. Nos dias de hoje, a grande maioria da população economicamente ativa, a primeira coisa que faz ao acordar e antes de dormir, é acessar a tela de seu celular. Essa pequena tela pode ser carregada para todos os lugares. Dá acesso não apenas a um mundo de entretenimentos, mas também de noticias e informações. Permite que as pessoas se conectem, interajam, troquem opiniões, mandem e recebam mensagens. É verdade que as pessoas atualmente estão mais dispersas. Mas, mesmo estando fisicamente longe umas das outras, essa relação é feita de forma simples, rápida e fácil através do celular. A televisão não tem essa maleabilidade nem permite tal interação e movimentação entre as pessoas. É verdade que as pessoas são bombardeadas muitas vezes ao dia, por todo tipo de conteúdo em seus celulares. Mas neste universo de verdades e fakes, uma narrativa consistente, plantada com antecedência, que se mostre duradoura e persistente, vai com certeza tornar viável uma candidatura eleitoral.A combinação perfeita para uma boa comunicação política reúne cinco elementos principais: uma narrativa consistente, a capacidade de entregar bons conteúdos, uma boa base de dados, metodologia de trabalho e a coordenação pela estratégia. Quem estiver pensando em se candidatar em 2020, não pode cometer o equivoco de trabalhar sua candidatura apenas e certamente, com os métodos tradicionais de fazer politica. Reuniões, eventos, corpo-a-corpo são interessantes, mas como elementos acessórios e complementares da campanha. O candidato tem que buscar o novo e se apoiar nas redes sociais para construir sua candidatura, sua história e seu perfil, com uma narrativa consistente. E saber usar as redes sociais como seu instrumento maior de comunicação com o eleitorado. Nesta comunicação procurar abordar, desde problemas mínimos que afetem a população, até problemas políticos mais complexos, dando sempre a sua opinião e pedindo a do eleitor, para construir uma corrente e formar seguidores. Na política, o tempo é o ativo mais importante. Acertos ou erros em politica, podem promover o candidato ou lhe criar problemas. Quando criam problemas, é preciso tempo para a recuperação. E em politica não se pode perder tempo. Na justiça comum uma sentença pode demorar dias, meses ou até anos para se cumprir. Na vida politica, a sentença que castiga os erros eleitorais, costuma se concretizar em poucas horas. Cada hora desperdiçada faz falta. Um dia pode significar uma carreira, uma reputação ou os próximos anos. Então, é preciso ter muito cuidado com a construção de sua história e seu perfil. A base da comunicação precisa ser sólida e tem que mostrar sempre que o seu ponto de vista é o mais sinérgico com o do eleitorado ao qual pretende atingir. Enquanto o tempo passa, é que as versões da história são construídas. As candidaturas também. Alguém sempre vai ganhar e alguém sempre vai perder. É preciso saber lidar com isso. Não desanimar com os possíveis tropeços e não se acostumar nunca com o que já foi conquistado.Alguns Conselhos Interessantes -1 -Informar não é comunicar. A informação é a mensagem. A comunicação é a relação candidato-eleitor, que é muito mais complexa, mas que é importante quando assertiva e empática, para engajar e mobilizar.2 - As pessoas se conectam com histórias bem construídas, as quais devem fazer parte de sua estratégia de comunicação. A magia das histórias acontece quando as pessoas se reconhecem nelas. Uma boa história estabelece conecção pessoal e emocional com o publico inspirando ações e transformações.3 - Mais importante do que aquilo, que os políticos pensam e dizem, é o que as pessoas pensam e falam. É daí que se tem que buscar o apoio: daquilo que as pessoas pensam e falam.4 - Mobilize as pessoas - Mobilizar é incentivar e construir a participação das pessoas, em estruturas ou eventos, gerando benefícios coletivos.Importante começar, mapeando em suas redes sociais, as pessoas que curtiram, compartilharam e interagiram seus conteúdos. Convidar então essas pessoas a participar de suas estruturas, nas redes sociais ou em outras plataformas. O whatsApp é uma ferramenta importante para isto. O Facebook também. Em seguida, planejar conteúdos que sejam do interesse desse público. Essas pessoas podem ser multiplicadores de suas mensagens.5 -Para produzir conteúdos interessantes para seu público, é importante conhecê-lo bem, seus interesses, necessidades e entender sobre o que estão falando. A produção de conteúdo de qualidade vai muito além do que apenas produzir textos. Para ser assertivo ele tem que ser útil, interessante e gerar valor para quem o lê.Essa relação de Conselhos Interessantes poderia se estender muito ainda. Porém, o texto ficaria longo demais.Vou terminar então dizendo o seguinte: narrar histórias com bom conteúdo se consolidou como uma estratégia forte da comunicação politica. O politico que souber dialogar com as pessoas de uma forma que gere confiança e empatia, sairá na frente dos outros. O mundo da politica deve ter o mesmo efeito dos filmes e das séries, pu seja, prender a atenção do público.Rio de Janeiro, 26 de Maio de 2019.
domingo, 26 de maio de 2019
REFLEXÕES SOBRE MARKETING POLITICO ELEITORAL
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