Caminhamos para quase 3 meses de combate ao coronavirus e de isolamento social. A perda
em vidas humanas já chega a quase 29 mil óbitos. É um número muito grande e que atinge
indistintamente a todos os setores da nossa população. Apesar do isolamento, o virus avançou
muito. E mesmo depois que passar, os seus efeitos vão continuar castigando a população. Desta
vez com a economia.
O isolamento social, mantém as pessoas em casa, sem trabalhar, sem consumir. Como
consequência o comércio não vende e nem compra, a indústria não produz por que não tem
encomendas. As fábricas fecham, o desemprego cresce, a pobreza aumenta.
Com o prolongamento do isolamento social, esse será o cenário depois que passar a pandemia.
Quem resistir até lá, terá muitas dificuldades para recompor sua vida.
Os dois principais pilares da economia no Brasil, o consumo das famílias e o setor de serviços,
foram os que mais sentiram os efeitos do isolamento e serão os mais atingidos logo depois.
O consumo das famílias, que representa 67% do PIB pela ótica da demanda, já recuou 2,5%, a
maior queda desde a crise do setor elétrico em 2001. E as projeções são de um recuo tanto
maior quanto mais tempo durar o isolamento social.
Quanto ao setor de Serviços, ele é o responsável por 74% do PIB pelo lado da oferta. Seu
encolhimento foi de quase 2%, a maior queda em 12 anos. Já a construção civil, setor que mais
emprega mão de obra, sobretudo a menos qualificada, deverá ter uma queda de mais de 11%.
Como consequência, 79% das construtoras já avisaram que vão adiar seus lançamentos, pois a
demanda diminuiu muito e as vendas de março ficaram 47% abaixo das vendas de fevereiro.
Por sua vez, a capacidade instalada do setor industrial recuou 1,9%. Esse recuo faz com que o
setor responda por apenas 17% do conjunto das riquezas produzidas no país neste começo de
ano. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, essa é a pior participação do setor
no PIB nacional. Só para efeito de comparação, em 2005 essa participação do setor industrial
alcançava 29,8%.
Se quisermos olhar outros números veremos que as exportações brasileiras recuaram 0,9%
enquanto as importações cresceram 2,8% gerando um déficit na balança comercial.
A maior consequência desse processo todo, foi o agravamento do desemprego, que subiu de
11,2% para 12,6% totalizando quase 13 milhões de pessoas desempregadas ou em busca de uma
oportunidade de trabalho.
Pelos dados do IBGE, os impactos da crise são e serão ainda mais duros para o trabalhador
informal, por não ter qualquer forma de proteção.
Essa situação só não é mais grave, tanto do ponto de vista da sobrevivência da população mais
carente, como do ponto de vista da instabilidade social, por que o governo disponibilizou um
auxílio emergencial de R$ 600,00 mensais, com vigência para três meses e que já alcançou mais
de 55 milhões de pessoas. Dependendo da situação, esse auxílio pode ter uma prorrogação,
mas isso não pode durar para sempre. As pessoas tem o direito de retomar suas vidas de forma
plena, sem depender de auxílios, tendo acesso ao consumo com o produto de seu trabalho.
Por isso é tão importante, ao mesmo tempo que se combate o covid, começar a reabrir a
economia, ou esses dados negativos serão muito maiores ainda, quando a pandemia passar.
2 - AJUDA DO GOVERNO
Assim como o auxílio emergencial, tomei conhecimento de duas medidas importantes do
governo federal, para diminuir os efeitos perversos dessa situação de emergência pelo
coronavirus.
A primeira delas, abre caminho para o aumento do financiamento para médias empresas.
Diante da resistencia dos bancos privados em assumir o risco dessas operações de auxílio, o
governo vai fortalecer em R$ 20 bi - quatro parcelas de R$ 5 bi - um Fundo Garantidor do BNDES
para fazer com que o risco do crédito às médias empresas seja responsabilidade da União.
A outra medida, ainda não concluida, deverá fazer uma espécie de doação em dinheiro para
pequenas empresas.
Essa ajuda está sendo chamada de "bonus de adimplência". Através dela o governo poderia
repassar um total de R$ 10 bi para um milhão de pequenas empresas, R$ 10 mil para cada uma
e o compromisso delas com o governo será o de começar a pagar impostos regularmente a partir
de 2021.
Diante da situação complicada para as médias e pequenas empresas, achei muito importantes
essas duas medidas.
3 - A DIFÍCIL SITUAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
O coronavirus agravou a situação econômica, que já era dificil, do estado do Rio de Janeiro. Só
no primeiro trimestre do ano, ainda no começo da pandemia, o PIB do estado já havia recuado
1,9%. Somente em março, no inicio das medidas de isolamento social, a atividade econômica
fluminense recuou quase 6% em relação a fevereiro, consubstanciando o pior resultado desde
2002.
Industria, comércio, serviços, todos esses setores acumulam perdas no estado. E não são
pequenas. Desde o ponto mais elevado da atividade econômica, que aconteceu em janeiro de
2015, a economia do Rio de Janeiro acumula retração de 2,1%. O mercado de trabalho talvez
seja o que mais sentiu essa retração da atividade. O Rio de Janeiro tem atualmente, pelos dados
do IBGE, 1,324 mil pessoas desempregadas. A criação de novos empregos quase inexiste. Nos
primeiros quatro meses de 2020 foram criadas apenas 1,490 novas vagas de trabalho. E a
Fecomercio-RJ estima que essa pandemia pode acabar com quase 500 mil empregos no Rio de
Janeiro nos próximos meses.
A maior parte dessa população desempregada vive em comunidades carentes. O Rio de Janeiro
tem atualmente, quase um terço de sua população vivendo nestas áreas consideradas informais,
sem cesso regular a redes de água e esgoto, sem qualquer assistência do governo. O único
instrumento do estado que entra regularmente nestas comunidades, são as unidades policiais.
E não entram para fazer gracinhas.
Nestes primeiros meses de 2020, a policia de Wilson Witzel já matou mais gente do que a policia
dos Estados Unidos. E não mata apenas bandidos, traficantes, milicianos. Na maior parte de suas incursões mal planejadas, muitos inocentes, além de mulheres e crianças, tem sido o destino
final de suas investidas mortais.
Essa população carente, desassistida e ignorada, é a que mais sofre e a que mais vai sofrer, com
a deterioração da economia do estado.
Este ano vence a primeira etapa do acordo de recuperação fiscal e o estado não tem a menor
condição de saldar esse compromisso, o que deixará o Rio de Janeiro em uma situação muito
complicada. A consequência imediata será o agravamento da vulnerabilidade social, com as
famílias acuadas pelo desemprego, a queda da renda, muita gente empurrada para debaixo da
linha de pobreza, a insegurança alimentar e o quase desespero.
Principalmente por que, o governo que foi eleito com a promessa de devolver à população os
seus sonhos de uma vida melhor, esse governo é flagrado em meio à corrupção, dilapidando o
dinheiro público e decepcionando a população.
4 - OS SUPERFATURAMENTOS DA SAÚDE
Wilson Witzel já coleciona 5 processos de impeachment na Alerj. Todos eles tem como base a
corrupção.
Para quem se elegeu criticando a corrupção dos governos anteriores e prometendo um governo
limpo e honesto, ele esqueceu muito rápido as promessas de campanha. Em um ano e meio de
governo, já está competindo de igual para igual com Sergio Cabral, que governou o Rio de
Janeiro por dois mandatos.
Além dos processos de impeachment na Alerj, ele é investigado por superfaturamento na Saúde
do Rio de Janeiro.
Segundo as investigações, ele aproveitou o combate ao coronavirus, que permite a contrataçao
de empresas sem licitação, para avançar sobre os cofres públicos. Só os contratos fraudulentos
com a IABAS, chegam a mais de R$ 700 milhões. Com ele são investigados alguns secretários,
um subsecretario, assessores e até mesmo a sua esposa.
É tudo muito grave, mas acredito que as investigações deverão encontrar muita mais coisas,
além de Wilson Witzel.
Este já é o quinto governador do Rio de Janeiro que é investigado ou condenado por corrupção.
O que significa isso?
Sai governo, entra governo, da situação, da oposição, mas a corrupção continua. Está enraizada.
Então, não é apenas a figura do governador. É toda uma estrutura corrupta, viciada, que
permanece de governo a governo. Tanto Mario Peixoto como o Rei Arthur, como muitos outros,
já vem de muito antes, pagando propinas como fornecedores dos governos.
Trocam nomes de empresas, trocam endereços, mudam os contatos, os contratos, mas são os
mesmos grupos, que se associam aos governos e/ou aos partidos, para continuar roubando.
Se for comprovado esse esquema de corrupção na Saúde, ele possivelmente, não deve ser
exclusivo da Saúde. Apareceu na Saúde por que o coronavirus precipitou uma situação que seria
encoberta com a contratação sem licitação. Mas não estavam preparados para a velocidade da
pandemia, que pegou o esquema de calças curtas.
Se o que está sendo investigado na Saúde for comprovado, e se ele escorrega para a FAETEC,
para a Fundação Cecierj, então esse esquema deve se espalhar em muitas outras secretarias,
mudando apenas de forma, para se adaptar às necessidades e a outras estruturas.
Wilson Witzel sozinho não comandaria um esquema desse tamanho, por mais esperto que seja.
Ele não tem experiência politica. Vem de um passado de Juiz Federal, onde as estruturas, do
ponto de vista da equipe de confiança para ocupação de espaço, são muito pequenas. Foi com
essa pequena estrutura, sem experiência politica, sem o manejo da vida pública, sem conhecer
as artimanhas, as armadilhas e os meandros da ocupação e manutenção dos espaços, que ele
teve que assumir o governo. Recebeu apoio de algumas forças pequenas, de algumas lideranças
isoladas, mas nada suficiente para ocupar os amplos espaços do governo estadual,
principalmente as secretarias maiores e os espaços mais rentáveis como as empresas e os
fundos de pensão.
Quem lhe deu essa estrutura de pessoal, para ocupar e manter os espaços, indicar ou nomear
secretários, fazer projetos e composições politicas, foi o partido ao qual ele se filiou para
concorrer eleitoralmente. O conhecimento de Wilson Witzel sobre as pessoas, para ocupar os
espaços, era muito pequeno. Ele era um novato na politica. Era o partido que tinha esse
conhecimento e essa relação para escolher quem colocar nos espaços. Mesmo quando os nomes
não eram de filiados ao partido, passavam pelo seu crivo, eram no mínimo de sua confiança ou
compromissados com ele. Mesmo não participando fisicamente do governo, é a direção do
partido quem controla o governo e a maior parte dos seus espaços.
Por isso acredito, que a investigação que agora se inicia, deveria, só apenas varrer o governo
por inteiro, como se diz na giria, "de cabo a rabo", mas atingir também o seu mentor.
5 - BOLSONARO E O CENTRÃO
Jair Bolsonaro vem sendo muito criticado por uma boa parte da classe politica, pela oposição e
pela mídia, entre outras coisas, por ser autoritário, por não cultivar o diálogo, por não negociar
com o Congresso e não fazer esforços para construir uma base parlamentar, através da qual
implementar no Congresso, as suas propostas de governo.
Lembro aqui, como exemplo histórico, que Leonel Brizola baseou sua campanha para
governador do Rio de Janeiro fazendo a critica do governo Chagas Freitas, que ele chamava "um
mar de cumplicidade". Uma vez eleito, Brizola não conseguia que a Alerj aprovasse suas
propostas de campanha. Lhe faltava sempre a maioria de votos necessária.
Para não paralizar seu governo e, mesmo contra uma parte de sua base de apoio, Brizola teve
que negociar com aqueles que criticava em campanha. Abrigou parte deles no governo, mas,
sem nunca perder a independencia ou o controle sobre eles. Ele sempre dizia que enquanto
tivesse apoio popular, não seria refém desses grupos, mesmo que eles participassem do
governo. E assim foi. Tanto que os problemas de corrupção em seu governo tiveram como
protagonista o seu próprio partido, o PDT e não os aliados.
Ou seja, tudo depende de quem manda.
Lula, depois de várias tentativas frustradas, elegeu-se presidente em base à Carta aos Brasileiros,
onde ele esquecia o discurso raivoso do inicio do petismo e se abria ao diálogo com todos que
quisessem apoiá-lo. Depois de eleito, recheou seu governo com muitos daqueles que criticava.
Dos 15 partidos que na época compunham o Congresso, ele tinha o apoio de 11 desses partidos,
que participaram do governo sem que lhes fosse pedido atestado de honestidade, relação que
ficou conhecida como "toma lá e dá cá".
O governo Dilma, não somente repetiu, como ampliou o leque desse apoio. Seu maior aliado
era o PMDB e logo depois o PSD. Do Centrão aos "Centrinhos", todos estavam lá, apoiando
Dilma, em troca de uma boquinha. Ela somente perdeu o apoio dessa base partidária, que nada
tinha de ideológica, mas sim de fisiológica, quando, com a corrupção escancarada, a situação do
seu governo já estava perdida para a insatisfação popular. Antes do impeachment no Congresso,
ela já tinha sofrido esse impeachment nas ruas.
Agora, esses mesmos setores, esquecendo o que fizeram no passado, criticam o presidente da
república quando ele, para fazer avançar suas propostas de campanha e dar estabilidade ao
governo, busca construir uma maioria parlamentar e para isto, aceita o apoio desse grupo de
partidos denominado de Centrão, que a oposição agora, acusa de serem fisiológicos.
Que memória curta dessa gente.
Carlos Montarroyos
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