domingo, 16 de agosto de 2020

O ISOLAMENTO SOCIAL E A ECONOMIA

 Isolamento e medidas agressivas para conter pandemia são positivas ...

Algumas notícias e comentários desta semana

 A - A pandemia afetou negativamente 58% das indústrias exportadoras. Entre as empresas afetadas, 45% perderam mais da metade do valor exportado. Entre as importadoras e aquelas que investem em países estrangeiros, a queda foi ainda mais relevante, chegando a 70%.

Entre as empresas de pequeno porte, com até 49 funcionários, o impacto foi de 74,9%, sendo que o maior impacto negativo foi nas empresas de serviços. Nesta mesma linha, o IBGE afirma que a maioria das 2,8 milhões de empresas em atividade no Brasil, na realidade 69% delas, teve dificuldades para realizar pagamentos de rotina na segunda quinzena de junho. E quase metade delas, teve que postergar o pagamento de impostos. Ainda segundo o IBGE o cenário se encaminha para o aumento da inadimplência, já que a demanda continua muito baixa e os custos das empresas, muito elevados. Como consequência desta situação, o número de trabalhadores desocupados, diante da pandemia, subiu para 12,8 milhões na segunda semana de julho, em comparação com 11,5 milhões na semana anterior. Sendo assim, o desemprego saltou de 12,3% para 13,4% no mesmo período de julho. Já a população fora da força de trabalho, ou seja, os desempregados e os que não estão conseguindo procurar trabalho por causa das restrições aos deslocamentos, alcançou 77,9 milhões de pessoas. Esse é o quadro produzido pelo isolamento social, utilizado como medida para combater o Corona vírus.

B - Mas esta situação não se restringe ao Brasil. Em todos os países do mundo, o isolamento social como medida para combater o Corona vírus, cobrou o seu preço na economia. Em todos eles, as restrições aos deslocamentos provocaram a diminuição da atividade econômica. Em cada um deles, o PIB encolheu e o desemprego cresceu como consequência. Estimam os analistas que o comércio no mundo deve recuar entre 13% e 15% em 2020. Esta semana foi divulgado que o PIB americano diminuiu 32,9%, mas esse é o número anualizado. Na realidade o PIB dos Estados Unidos recuou 9,7% em relação ao trimestre anterior. De qualquer forma é uma queda muito grande para a primeira economia do mundo. Em outros países não está sendo diferente. Na Alemanha a queda do PIB é de 10,1%. Na França, 13,8% acumulando 19% de queda este ano. Na Itália 12,4%. Na Espanha a queda é de 18,5% acumulando 22% no ano. Já a zona do euro encolheu 13% o seu PIB.

A queda do PIB destes países elevou o número de desempregados. Nos Estados Unidos esse número chegou a 14,7%, o mais elevado em 70 anos. Na Espanha o desemprego é de 13,8%. Na Itália 10,7%. Na França 9,7% e na Alemanha 13,2%. E isto são dados dos países mais desenvolvidos. A situação dos menos desenvolvidos é muito pior. Em muitos países, como reflexo dos problemas sociais criados pela retração da economia em função do isolamento social, tem acontecido protestos. O mais recente destes protestos foi neste sábado, dia 01 de agosto, em Berlim na Alemanha, quando milhares de manifestantes se manifestaram contra as medidas de restrição como forma de combate ao Corona vírus. Segundo as autoridades, eram menos de 30 mil manifestantes, enquanto os organizadores estimavam em 100 mil os participantes do protesto. Seja qual for o número, para um país como a Alemanha, é muito significativo.

 2 - LUTA CONTRA A COVID-19

A produção de uma vacina contra o Corona vírus é talvez a providência mais importante do ponto de vista médico, para superar essa crise do covid-19. Neste sentido, o Ministério da Saúde anunciou nesta sexta-feira, 31-07-2020, que assinou documento alinhando os detalhes, da produção no Brasil, da vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido. A pasta divulgou que fará investimento de R$1,8 bi para a produção da vacina. Logo de início o Ministério da Saúde vai repassar R$ 522,1 para a estrutura de Bio-Manguinhos, unidade da Fio Cruz, produtora de imunobiológicos. Segundo o Ministério, o Brasil terá acesso a 100 milhões de doses da vacina em dezembro de 2020 e janeiro de 2021 e mais 70 milhões de doses, nos 2 primeiros trimestres de 2021. A vacina já está na terceira fase de testes, o que significa que está em um estado bastante avançado de desenvolvimento.

 3 - COMEÇANDO A SAIR DA CRISE

O Boletim Focus, do Banco Central melhorou a revisão de retração da economia este ano, de 6,5% para 5,6%. Na situação atual, um ponto percentual representa muita diferença. Como consequência, a confiança empresarial subiu. O IBOVESPA já acumula alta de 60% desde o seu pico em março deste ano. Isto é importante porque as bolsas costumam antecipar os movimentos futuros da conjuntura. Entre os analistas econômicos, a expectativa é que o IBGE deverá divulgar na próxima semana, resultados bem animadores da indústria em junho, com uma forte alta na comparação com maio. A estimativa do banco ABC Brasil, é de um crescimento de 9% de um mês para o outro. Entre março e abril, a retração havia chegado a 25%. Em maio houve crescimento de 8,7%. Essa alta de junho será a segunda consecutiva, o que é muito animador. Reproduzo abaixo algumas informações que comprovam esse início de recuperação:

 a - Economistas do mercado financeiro voltaram a melhorar as estimativas para o PIB de 2020. De uma redução de 5,95%a estimativa é de uma queda de 4,7% segundo as previsões do governo. A previsão também é de uma queda da inflação, passando de 1,72% para 1,67%. Em relação à taxa básica de juros, a previsão do mercado é de mais uma redução, passando de 2,25% ao ano para 2% no início de setembro.

 b - O índice de confiança da indústria, medido pela Fundação Getúlio Vargas,  subiu 12,2 pontos em julho, alcançando 89,9 pontos, a maior alta da série histórica. Segundo a FGV, 18 dos 19 segmentos industriais pesquisados, tiveram aumento de confiança. Ainda segundo a FGV, a melhora decorre principalmente da diminuição do pessimismo em relação aos próximos meses. O Índice de Expectativas, subiu 14,3 pontos, alcançando 90,5 pontos e recuperando 79% das perdas observadas até o mês de abril.

 c - Já o setor de Serviços, ainda pela FGV, subiu pelo terceiro mês seguido, alcançando 79 pontos e recuperando assim 62% das perdas dos primeiros 4 meses do ano.

 A pesquisa indica também e isso é muito importante, que esse início de recuperação se tornou possível também, por causa da flexibilização das medidas de isolamento social.

4 - O GOVERNO E A CRISE

Penso que um dos elementos responsáveis por esse início de recuperação e retomada da confiança foram as medidas de ajuda do governo federal, das quais cito aqui apenas algumas:

a - O Senado aprovou nesta quarta-feira dia 29-07-2020 uma MP que autoriza a União a repassar até R$16 bi a Estados, DF e Municípios, para ajudar a repor as perdas de arrecadação, provocadas pela pandemia do novo Corona vírus. O texto foi editado pelo governo federal em abril deste ano, quando entrou em vigência. No entanto a medida precisava ser aprovada pelo Congresso até o dia 30 deste mês, para não perder sua validade. A proposta, que significa uma grande ajuda para estados e municípios, segue agora para a sansão presidencial.  

b- Informação da Caixa Econômica diz que as contas de poupanças digitais, abertas para o pagamento de operações do auxílio emergencial, de R$ 600, já fizeram mais de 136 milhões de transações financeiras desde o início do programa. Segundo a Caixa, o valor dessas transações chega a R$17,5 bi. Essas movimentações foram realizadas principalmente em compras com Cartão de  Débito Virtual. O segundo meio que mais registrou transações com o app do auxílio emergencial foi o pagamento de boletos, alcançando mais de R$ 35 milhões.

 É a ajuda do governo movimentando a economia.

c - Segundo análise de pesquisadores do Centro de Micro Finanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas, os trabalhadores brasileiros tiveram um aumento de 24% em sua renda com o auxílio emergencial do governo federal, durante a pandemia do covid-19. No caso dos empregados informais, aqueles sem carteira assinada, o aumento de renda proporcionado pelo auxílio chega a 50%, passando de uma média de R$1.344 para R$ 2.016. Segundo a análise, o auxílio emergencial foi fundamental para compensar a perda de renda dos trabalhadores, ajudando a manter o seu nível de vida e suas condições mínimas de sobrevivência, nesta situação de crise.

 5 - Encerro esse texto com a notícia divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo de que a equipe econômica do governo, estaria estudando a prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, dando assim um suporte mais prolongado à situação da população mais vulnerável, de trabalhadores informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família. A ideia em estudos, seria que o auxílio fosse estendido até o final do ano, mas com um valor menor que os R$ 600 atuais. Ainda não existe uma decisão a esse respeito, mas se o valor tiver que ser mesmo modificado, o governo precisará de uma autorização do Congresso Nacional, uma vez que o Auxílio Emergencial ao ser aprovado, se tornou lei, não podendo assim ter modificado o seu valor. Independente do valor das parcelas, a confirmação da prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, representaria uma ajuda muito importante para que essa população mais carente, tenha um mínimo de apoio financeiro, para que essa população mais carente, tenha um mínimo de apoio financeiro, para a retomada de suas vidas no período pós-pandemia.

 Carlos Montarroyos


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