terça-feira, 3 de dezembro de 2013

França quer punir clientes de prostitutas !

Punir os clientes das prostitutas colocará muitas putas no desemprego.
Punir os clientes das prostitutas colocará muitas putas no desemprego.

Deputados franceses negam a fama libertária e de licenciosidade da França do Cancan e de Pigalle e votam a punição com multa e prisão para os clientes de prostitutas.
Duas deputadas socialistas francesas propuseram, com o apoio da ministra socialista dos Direitos da Mulher, o projeto de lei, aprovado pela Assembléia Legislativa, prevendo, como ocorre na Suécia, a punição dos clientes das prostitutas com uma multa equivalente a quase quatro mil reais, seguida de prisão no caso de reincidência.
Quando da divulgação do projeto, numerosas associações denunciaram seu caráter retrógrado e hipócrita, enquanto personalidades masculinas divulgaram O Manifesto dos 343 Malandros com o título de Não toque na minha puta, em defesa do direito de se recorrer a uma profissional no caso de falta de sexo, mesmo porque se desaparecerem os clientes, por medo da multa e prisão, elas ficarão sem emprego.
Para os opositores à nova lei, que precisará ainda ser aprovada pelo Senado para ser aplicada, deve-se punir e impedir o tráfico de prostitutas e os proxenetas que exploram e vivem da prostituição, porém voltar-se contra os clientes, num país onde a prostituição é legal, constitui um erro elementar e um absurdo excesso de moralismo.
Talvez o mais chocante nesse projeto é o fato de ser uma iniciativa de socialistas, no papel de zeladores dos bons costumes, a pretexto de protegerem as prostitutas, num país de fama libertária e de hábitos sexuais mais livres, na literatura, no cinema, no teatro, cuja licenciosidade e maisons closes inspiraram o compositor Offenbach e deram origem ao French Cancan, atraindo ainda hoje milhares de turistas curiosos das especialidades eróticas das prostitutas de Pigalle, mesmo se hoje elas são na maioria russas ou rumenas, e dos espetáculos sugestivos de mulheres de seios nus do Moulin Rouge e cabarés.
Será uma solução para acabar com a prostituição se punir seus clientes? Não, essa medida obrigará as prostitutas a venderem seu sexo de maneira escondida e, ao contrário de um comércio livre, serão ainda mais vítimas de cafetões e exploradores. Aumentarão os salões de massagens, os rendez-vous ou encontros feitos pela Internet ou anúncios discretos nos jornais. Pior, muitos clientes temerosos de serem flagrados e terem manchada sua reputação junto aos empregadores e famílias, não irão mais pagar pelo sexo real e se viciarão no sexo virtual da pornografia na Internet ou sexshops, que pode se tornar obsessivo e compulsivo, incapacitando o viciado ao sexo normal.
Não existem estatísticas sobre como os clientes suecos reprimem seus impulsos sexuais, proibidos que foram de recorrer às prostitutas, mas além dos que recorrem à pornografia virtual, outros podem derivar para o incesto, a violação e estupro. Considerada uma das mais antigas profissões, com personagens prostitutas inclusive na Bíblia, a prostituição pode ser também exercida num contexto maior, seja a mulher que utiliza seu charme para subir na profissão ou que cede seu sexo num bom casamento ou para ter acesso ao cartão de crédito do marido.
No Brasil, antes da maior liberdade atual entre os jovens, eram as prostitutas que iniciavam os homens na vida sexual, já que a moral retrógrada e a religião praticamente impediam se discutir questões de sexo em família e muito menos sua prática, origem de muitos casamentos frustrados.
A lei deve punir todos que obrigam crianças, mulheres ou homens a se prostituírem, mas não deve intervir quando o exercício de prostituta ou prostituto é uma opção voluntária de profissão de pessoa adulta. Na França, existe mesmo um sindicato das prostitutas, preocupado com o risco de suas filiadas ficarem sem clientes. Geralmente, as fases de repressão à prostituição coincidem com épocas de retorno a velhos e hipócritas valores morais inspirados pela religião.

(Publicado originalmente no site Direto da Redação)
Rui Martins, jornalista, escritor, correspondente em Genebra.
Correio do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário